Apesar do apego às tradições nacionais, inerente ao espírito português,
e da constatação de que nos últimos anos as populações têm
voltado um olhar mais atento para as mesmas, não é incomum depararmo-
nos com situações de quase desconhecimento sobre as criações
literárias tradicionais portuguesas, ocorrendo maior conservação
nos meios rurais e maior invisibilidade por entre a voragem do
quotidiano das grandes cidades. Por seu lado, as ruas, as praças, os
livros de História, as nesgas de paisagens naturais emolduradas pelo
urbanismo das cidades a todo o momento invocam o desvendar das
lendas que com esses marcos comungam «histórias» da História, pequenos
mitos antigos e actuais.
Neste contexto, a literatura de tradição popular tem sobrevivido
de modo discreto, quase em surdina e nem sempre auferindo de um
reconhecimento compatível com o seu verdadeiro valor tanto intrínseco
como ao nível do seu significado cultural para as populações.
Cabe-nos a nós, gerações actuais, conferir à literatura tradicional um
alento que possibilite a sua perdurabilidade e que dê vivacidade às
outras vertentes do património reconhecido, esteja este integrado
num contexto artístico, histórico, religioso etnográfico, paisagístico
ou em qualquer outro.
Será de referir ainda que neste projecto pretende atingir-se o
universo criativo do povo que, paralelamente ao real, foi construindo
a sua própria paisagem, história, região, um mundo repleto de
cambiantes feéricas segundo uma «lógica», por vezes, ingénua, por
vezes, plena de uma sabedoria adquirida tanto nas ruas citadinas
como no trabalho da terra, ou na faina do rio ou do mar. Povo esse
que, na flutuação dos ditames da história e da vida, vai conferindo
novas tonalidades a esse universo fantástico, no qual ele próprio lhe
está intrínseco.
Sem comentários:
Enviar um comentário